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Arte e Cultura

Artista relembra a Lenda das Cataratas em pintura realizada na Praça da Paz

Miguel Hachen é o criador do Neoguarani e já levou trabalhos para diversos países, além de possuir uma obra marcante em Foz do Iguaçu.

Publicado em 21/07/2021 às 21:23

(Foto: Welyton Manoel/PMFI)

Oficina de arte Neoguarani, em La Plata, na Argentina. (Foto: Arquivo Pessoal)

(Foto: Arquivo Pessoal)

(Foto: Welyton Manoel/PMFI)

Miguel Héctor Hachen, argentino de 58 anos e iguaçuense de coração há 31 anos. (Foto: Welyton Manoel/PMFI)

No centro de Foz do Iguaçu, na Praça da Paz, há uma obra monumental que conta a história da principal marca da cidade: A lenda das Cataratas do Iguaçu. É o relato sobre do amor proibido entre a bela Naipi e o intrépido Tarobá, que foi modelada, de forma única, pelas mãos de Miguel Héctor Hachen, um artista que reúne quase todas as características da região trinacional e decidiu transformá-las em um estilo artístico próprio: o Neoguarani.

“A linguagem plástica ou estilo Neoguarani surge como uma corrente estética que tenta dar identidade visual e representar as nossas tradições. Somos o resultado de uma mistura cultural com grande influência do povo guarani (tanto em vocábulos da língua portuguesa falada no Brasil, como na culinária e na toponímia regional), que é resgatada nesta forma de expressão artística”, afirma Miguel.  

Grande parte dos diversos trabalhos que Hachen têm realizado são murais em que, segundo o movimento muralista surgido no México no início do século passado, os artistas executam obras monumentais, realistas e de grande compromisso social. 

Reencontro com as raízes

O artista de 58 anos, nascido na Argentina, mas morador de Foz há 31 anos e iguaçuense de coração, retrata em suas obras tudo aquilo que vivenciou, desde a infância, na província de Missiones (Argentina), em contato com a cultura indígena e os povos gaúchos do Rio Grande do Sul. 

A conversa com o artista foi realizada em frente ao painel que ele projetou e finalizou em 2018, após nove meses de execução, na qual empregou diversos materiais. Ao retomar as lembranças de como o criou, relembra que, na verdade, o Neoguarani como conceito sempre fez parte da sua vida.

Miguel estudou Artes Plásticas na Associação Estímulo de Belas Artes e na Nova Escola de Artes Visuais, ambas em Buenos Aires. Foi durante esse período na capital que percebeu a importância da cultura nas expressões artísticas. 

“Eu nasci no meio do mato. Meu primeiro contato com a luz elétrica foi somente aos 11 anos, quando me mudei para Buenos Aires. Eu morava a poucos quilômetros de uma aldeia Mbyá-Guarani, então tudo o que eu aprendi ali, as vivências da infância, marcaram para sempre. Fui para a capital, estudei arte e voltei para me reencontrar com a minha cultura”. 

Foi nessa epifania que surgiu o Neoguarani. A partir dela, Miguel percebeu que poderia desenvolvê-la em diversas formas de expressão artística, desde que a essência fosse mantida. 

“Posso dizer que ela surgiu ‘sem querer’. Já trabalhava em uma linguagem própria antes dela, que também tinha boa aceitação. Mas comecei a me engajar com o muralismo e percebi que poderia aplicar o conceito Neoguarani em cerâmicas, pinturas e até nas poesias que escrevo sem empregar artigos nem preposições, tal como na língua guarani”. 

A tríplice fronteira levada para longe

As obras criadas pelo artista já foram levadas para países vizinhos da América do Sul, como Argentina, Paraguai, Bolívia e Chile, seja para realizar exposições, ministrar cursos ou oficinas de arte pública. A Arte Neoguarani também atravessou o oceano para formar parte de acervos na Itália, Alemanha, Reino Unido, Estados Unidos e Marrocos, dentre outros países. 

“Noutros países as pessoas veem as minhas obras e a identificam com a região. Para minha surpresa, o estilo Neoguarani já foi objeto de estudo em trabalhos de escolas, colégios e até de teses de graduação e doutorado em faculdades de arte como a UBA (Universidade de Buenos Aires) e a Universidade de Alexandria, no Egito. Eu acho sensacional, pois o Neoguarani se espalhou pelo mundo de uma forma que eu nem esperava”. 

Em Foz, além do referido mural na Praça da Paz, Miguel também é o autor de “Ysy, Kuarahy ha Yvytu" (A Mãe Água, o Sol e o Ar), trabalho que remete às origens da região em meio ao polo de tecnologia e desenvolvimento dentro do Parque Tecnológico Itaipu (PTI). 

Revolução cultural em Foz do Iguaçu

Há mais de três décadas na cidade, não há como negar que Miguel possui raízes muito firmes em Foz do Iguaçu. Além de acompanhar todo o desenvolvimento recente do município, também já atuou como professor, escreveu para jornais e criou uma conexão com tudo o que se passa na famosa Terra das Cataratas. 

“Apesar de seus 107 anos de história, é impossível negar o quanto Foz do Iguaçu se desenvolveu após a construção da Itaipu Binacional. A cidade foi transformada e reconhecida pelos atrativos únicos. Isso tudo influenciou na cultura. Com tanta gente vinda de lugares diferentes, foi formada uma espécie de arquipélago de ilhas culturais, mas que ainda precisam se tornar um continente com identidade própria”.   

Por conhecê-la tão bem, ele chega à conclusão de que Foz passa por uma grande revolução cultural, e assim como muitas cidades em que o mundo já viu isso acontecer, é impossível imaginar até onde ela poderá chegar. 

“Hoje em dia centenas de estudantes vêm para cá todos os anos, por conta das universidades. São jovens que buscam mais arte e exigem produtos culturais de qualidade. Vejo que a arte está sendo bastante valorizada, mas com maior apoio e divulgação a nossa população irá reconhecer e valorizar ainda mais o trabalho dos artistas locais com projeção internacional”.

Para o futuro, Miguel espera essa revolução, enquanto cria obras sobre o passado que nos ajudam a compreender o presente e de onde viemos.

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