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Centro de Medicina da Tríplice Fronteira planeja expansão das atividades

Ideia é transformar a estrutura em referência para o diagnóstico de sanidade animal, atendendo cooperativas da região Oeste.

Publicado em 08/11/2019 às 08:59
Atualizado em

(Foto: Rubens Fraulini)

Única planta da América Latina adaptada para fazer exames em material genético tanto de humanos como de animais, dentro do conceito de saúde única, o Centro de Medicina Tropical (CMT) da Tríplice Fronteira, em Foz do Iguaçu, se prepara para expandir os serviços e atender cooperativas que atuam no setor do agronegócio. A ideia é transformar o espaço em um centro de referência para diagnóstico de sanidade animal, oferecendo exames genéticos, microbiológicos e físico-químicos de alta qualidade.

A expansão abre um novo e amplo campo para o CMT, que faz parte da estrutura do Hospital Ministro Costa Cavalcanti (HMCC) e conta com apoio da Itaipu Binacional. A região Oeste do Paraná concentra o maior rebanho de suínos do Paraná e uma das maiores cadeias de produção de frango do mundo, abrigando as grandes cooperativas do País. Também produz carne bovina e leite. Exames de sanidade que hoje são feitos fora da região, com um custo maior e demora na obtenção de resultados, poderiam ser feitos no laboratório do CMT.

O diretor-geral brasileiro de Itaipu, general Joaquim Silva e Luna, avalia que a nova estrutura poderá favorecer especialmente as cooperativas que trabalham com a exportação de carnes. Laudos oficiais, com selo do Ministério da Agricultura, poderiam ser emitidos em menos de 24 horas, dando agilidade a processos de movimentação e liberação de cargas. “Um centro de referência aqui na região Oeste do Paraná geraria uma economia enorme para essas cooperativas, elevando a competitividade do produto paranaense no mercado exterior.”

“Nosso laboratório pode contribuir com o desenvolvimento regional, ofertando exames que atestem a qualidade e a sanidade destes produtos”, enfatiza o diretor superintendente do HMCC, Fernando Cossa.

O responsável técnico pelo laboratório, Robson Delai, diz que o CMT já iniciou os contatos com as cooperativas, que demonstraram interesse no serviço. O próximo passo será receber o aval do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), que irá avaliar a estrutura física e os equipamentos de centro. Em seguida, inicia-se o processo de acreditação junto ao Ministério da Agricultura.

“Teremos que indicar ao ministério quais os exames nós queremos prestar. Os técnicos vêm ao laboratório e acompanham todo o rito de caminho de cada exame. Se estiver tudo ok, o laboratório é chancelado”, explica. Delai estima que em dois anos será possível concluir o processo de acreditação e iniciar a oferta dos serviços. 

Os novos exames poderiam diagnosticar tanto as enfermidades mais comuns em frangos, bovinos e suínos, como a salmonelose (infecção provocada pela bactéria salmonela) ou doenças do aparelho respiratório, até doenças as mais raras e inexistentes no Paraná (como peste suína). Outro serviço que poderia ser oferecido é o monitoramento da qualidade do leite produzido na região. “Isso é importante para a cooperativa, porque a qualidade do leite interfere diretamente no preço do produto.”

A interrupção da vacinação de febre aftosa no rebanho do Paraná, anunciada pelo governo já para este mês de novembro, é outro fator que reforça a necessidade de um centro de referência na região. A condição de área livre de aftosa sem vacinação pode abrir novos mercados para os produtos paranaenses, mas também vai impor novas condições e responsabilidades. “A tendência é que cada vez mais os mercados externos exijam controles mais rigorosos dos produtos.” 

Sobre o CMT

O Centro de Medicina Tropical foi inaugurado em janeiro de 2017 e conta com um moderno laboratório de biologia molecular, de 240 metros quadrados. Em pouco mais de dois anos e meio, já realizou mais de 4 mil exames em vetores (mosquitos) para identificar a circulação de vírus de doenças como chicungunya, zika e dengue dos tipos 1, 2, 3 e 4. A ação ajudou a evitar ou minimizar epidemias de dengue e outras doenças em Foz do Iguaçu e região.

Também foram realizados cerca de 400 exames em material genético humano, 400 em cães, 200 em equinos e 120 em primatas, além de 700 exames de DNA para verificação de casos de leishmaniose e outras enfermidades. Os serviços são solicitados pelo Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), da Secretaria Municipal de Saúde, e clínicas veterinárias. 

Antes do CMT, o município tinha que esperar a notificação da doença, coletar amostras de sangue humano e encaminhar o material para Curitiba, para análise. O resultado demorava até 90 dias, tempo que permitia o alastramento da doença.

O centro inverte essa lógica, aproveitando-se da estratégia do município em espalhar armadilhas para insetos na cidade (especialmente o Aedes aegypti). Amostras do mosquito são analisadas pelo CMT e, se o exame indicar circulação viral, o Município pode imediatamente desencadear ações de bloqueio nas regiões afetadas. Desta forma, elimina-se o mosquito antes da contaminação humana.

“Quando você pesquisa a partir do mosquito contaminado, e não do doente, é possível reduzir pela metade as notificações em humanos”, salienta. O método do CMT já foi reconhecido por autoridades de saúde do Brasil e também pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), órgão vinculado à Organização das Nações Unidas (ONU). A experiência também será divulgada em breve em artigo científico pela revista Vector-Borne Zoonotical Disease, uma das dez mais importantes na área de doenças tropicais do mundo. 

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